Xuxa Meneghel, uma das figuras mais icônicas da televisão brasileira, voltou a ganhar destaque ao criticar Jair Bolsonaro por declarações polêmicas envolvendo meninas venezuelanas. Em tom contundente, a apresentadora afirmou que sentiu vontade de reagir fisicamente às palavras do ex-presidente. No entanto, sua indignação abriu um debate sobre a coerência de sua crítica, considerando episódios controversos de sua própria trajetória. Os internautas não perdoaram.
A apresentadora, que hoje se posiciona como defensora de causas sociais, tem em seu histórico artístico a participação no filme Amor Estranho Amor (1982), dirigido por Walter Hugo Khouri. O longa, ambientado na década de 1930, acompanha a história de um garoto de 12 anos enviado para viver com sua mãe em um bordel. Em uma das cenas mais controversas, a personagem de Xuxa, uma jovem prostituta, surge nua na cama com o menino, em uma sequência que, até hoje, levanta questionamentos sobre os limites da ficção e da ética cinematográfica. Embora a obra tenha sido defendida como uma representação fictícia de uma época, muitos consideram a cena incompatível com os valores que Xuxa defende atualmente.
Por décadas, a apresentadora tentou apagar esse capítulo de sua carreira, adquirindo os direitos do filme para impedir sua circulação. No entanto, em 2018, ela desistiu de bloquear a comercialização, e trechos da obra podem ser encontrados online. Xuxa argumenta que sua participação foi um erro de juventude e que o filme aborda temas como exploração infantil, mas críticos questionam se sua narrativa de arrependimento é suficiente para apagar o impacto de sua atuação.
Além disso, sua trajetória inclui escolhas que, para alguns, contradizem os valores que hoje defende. Desde a construção de uma imagem sensualizada em programas infantis até declarações controversas sobre diversos temas sociais, Xuxa oscila entre a reinvenção pessoal e o revisionismo seletivo de sua própria história.
Posicionamento Político e Apoio a Lula
Apesar de afirmar não ter partido ou lado político, Xuxa demonstrou apoio público a Luiz Inácio Lula da Silva em várias ocasiões. Durante a última campanha presidencial, a apresentadora fez o “L” em suas redes sociais e em aparições públicas, alinhando-se com a candidatura do petista. Essa contradição gerou críticas, pois sua declaração de neutralidade política contrasta com suas manifestações de apoio ao ex-presidente.
Damares Alves e as Crianças da Ilha de Marajó
A polêmica sobre coerência no discurso de figuras públicas também se reflete em outro caso de grande repercussão: a situação das crianças na Ilha de Marajó.
Durante sua gestão como ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves denunciou graves violações de direitos humanos na região. Segundo a ex-ministra, havia casos de exploração sexual infantil e tráfico humano, incluindo relatos chocantes de crianças submetidas a abusos extremos. Em um dos casos mencionados, havia relatos de crianças que tiveram os dentes arrancados para não oferecer resistência aos abusadores.
Damares Alves colocou o tema em evidência, gerando debates nacionais e internacionais sobre a necessidade de ações emergenciais. Sua atuação trouxe visibilidade ao problema e mobilizou esforços para fortalecer a proteção infantil na região.
Apesar da gravidade das denúncias e da ampla repercussão do caso, Xuxa, que frequentemente se posiciona como defensora dos direitos das crianças, não se manifestou sobre o tema nem demonstrou apoio às ações voltadas à proteção das vítimas da Ilha de Marajó.
A Importância da Coerência no Discurso Público
A questão central permanece: até que ponto figuras públicas podem criticar outros sem antes confrontar suas próprias contradições? Enquanto Xuxa se posiciona como uma defensora de causas nobres, sua falta de envolvimento com um caso concreto de exploração infantil levanta questionamentos sobre a seletividade de seu ativismo.
O debate sobre sua atuação não se restringe a um embate pessoal, mas reflete um dilema maior: a responsabilidade de quem ocupa um espaço de influência. Em tempos de polarização e julgamento público instantâneo, a coerência não é apenas desejável – tornou-se um critério essencial para quem deseja ser levado a sério.
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